quarta-feira, 28 de maio de 2014

Parte de mim cresce brincando =D

Essa é sem dúvida alguma uma semana linda em que pensar o brincar se faz presente nos nossos dias. Claro que quando nos tornamos mães não existe fuga para o brincar, passamos a conviver, ver e vivenciar ele nos nossos dias, mesmo nós adultos que esquecemos o quanto prazeroso é o brincar.

Considero-me uma pessoa de sorte com a profissão que escolhi, como atriz temos em nosso dia a dia de trabalho diversos momentos em que pensamos o brincar, brincamos e nos divertimos, um bocado. Especialmente porque trabalho com espetáculo para a infância, logo é necessário e essencial entender o universo da criança para conseguirmos nos comunicar com elas.

Neste ano estamos exatamente agora no meio da Semana Mundial do Brincar, no dia de hoje me sinto muito feliz em poder participar desta Blogagem Coletiva, de alguma forma poder incentivar, falar, relembrar do prazer do brincar e de sua importância também.


Foi-nos proposto que relembrássemos de nossa infância e de como eram nossas brincadeiras e o reflexo delas em nossas vidas. Antes porém quero fazer uma breve reflexão sobre o brincar nas nossas vidas, seus aspectos e importâncias.

Quero iniciar com uma poesia do Mário Quintana, extraída da obra Lili Inventa o Mundo, poesia que na minha opinião declara o mundo de brincar da criança:

"Lili vive no mundo do faz-de-conta.
Faz de conta que isto é um avião, zum...
Depois aterrizou em pique e virou trem
Tuc, tuc, tuc, tuc...
Entrou pelo túnel chispando.
Mas debaixo da mesa havia bandidos.
Pum! pum! pum! pum!
O trem descarrilhou. E o mocinho? Meu Deus!
No auge da confusão, levaram Lili para a cama à força.
E o trem ficou tristemente derribado no chão,
Fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha."

É por meio desta poesia que inicio minha fala, quando paramos para observar o brincar da criança é que percebemos a dimensão que a brincadeira tem na vida e no desenvolvimento dela. A brincadeira é por si só uma momento de interação da criança com sua cultura, sim culturalmente aprendemos como brincar, de que forma nos relacionarmos com as brincadeiras, com as demais crianças, podemos dizer então que o brincar é passado de geração para geração. Hoje vivemos de alguma forma uma NOVA forma de brincar, sim, porque até pouco tempo observávamos constantemente crianças brincando nas ruas, executando essa prática cultural juntamente de outras crianças, hoje temos uma realidade modificada em que pouco podemos deixar nossos filhos sozinhos brincando nas ruas, o que modifica de certa forma nossa relação, e a relação da criança, com o brincar.

Brincar é uma forma de nos conectarmos com quem somos. O brincar é uma das características primordiais nos seres humanos. Brincar é encontrar o seu humor, o seu impossível e o seu invisível. Brincar é permitir-se acreditar e acreditar se permitindo. Brincar é explorar o novo e descobrir no novo um lugar de aprendizagens. Brincar é aprender a ser parte de um todo. Brincar é uma possibilidade de ser e criar.

Quando vemos a criança brincando percebemos que é por meio da brincadeira que ela descobre quem ela é, como se processa o corpo dela, quais suas limitações e seus espaços de possibilidades. A criança quando brinca com o outro descobre no outro um parceiro, percebe os limites e o espaço entre ela e suas vontades e as vontades do outro. A criança brinca assim para aprender a ser social e se perceber parte de um todo, de um mundo.

Artista: Cândido Portinari

A partir disso não fica difícil para mim relembrar como foi o meu brincar, da criança Caroline, sabe que recentemente em nossa última montagem, no grupo de teatro, vivenciamos um revisitar a nossa infância e o brincar, como no espetáculo faço uma criança, a Raquel, fui buscar, a pedidos do diretor, lembranças da criança que fui e de como gostava de brincar.

E posso dizer com convicção, eu fui uma criança que brincou muito, com muitos amigos, amigos que seguem na minha vida até hoje. Tenho a sorte de ter crescido sempre na mesma casa, na mesma rua, rua sem saída, com amigos que cresceram todos junto de mim, exploramos, descobrimos e aprendemos muito e sempre.

Das mais felizes imagens que tenho da minha infância foi o brincar na rua, podíamos ficar na rua, poucos carros passavam e nós tínhamos árvores, espaços e uma privilegiada área verde para brincar. Aproveitamos tanto e tudo. Sempre subíamos muito na área verde, aonde era nosso principal esconderijo para os escondes, mas também era o local aonde montávamos nossas casas na árvore.

Há nisso uma lembrança linda e profunda que guardo comigo, acreditávamos que naquele mato tinham índios então não foram poucos os dias em que entramos, munidos de barracas, comidas, a caça de tentar descobrir aonde moravam os índios, olhávamos aquele mato e ele parecia imenso, parecia não acabar em lugar nenhum. Hoje olho para a mesma área e percebo o tamanho da linda ingenuidade infantil, aquela área não passa de um pequeno espaço que deve ter em média uns 80 metros quadrados, o suficiente para fazer com que nossos corações pulassem e qualquer ruído diferente que ouvíamos.

Outra lembrança querida que tenho da infância foram os pique niques de final de tarde, lembro também das nossas brincadeiras de corda, de elástico e claro de brincar de bonecas. Lembro da casinha, que ficava na casa da Fernanda, amiga de toda a minha vida e hoje minha comadre. Naquela casinha brincávamos também de teatro, aonde havia bruxa e todos os personagens que puderem imaginar. Ali também montamos algumas festas juninas e incontáveis apresentações artísticas, canto, dança e até desfile.

Fomos crescendo e junto de nós cresceram as brincadeiras, já na fase inicial da escrita criamos o URGENTENET, sim, eram trocas de cartas que aconteciam diariamente, foi assim que aprendi a escrever e foi assim que revelei muito de mim para cada um deles. Era lindo de ver, tenho algumas cartas guardadas até hoje, os envelopes eram feitos de páginas coloridas de revistas, e dentro de cada carta uma surpresa que podia ser pequena ou grande mas que era aguardada com ansiedade por cada um de nós.

Tivemos uma grande fase de fazer uma brincadeira simples e que nos tomava uma tarde inteira de sorrisos e brincadeiras, fazíamos espuma, com sabonete, passávamos horas batendo aquele sabonete até virar, junto da água, uma espuma grossa e que mais tarde serviria para nosso banho de mangueira. Houveram muitos dias também que decorávamos a rua inteira com giz de quadro, sim de alguma forma já fomos todos grafiteiros, pintávamos uma boa área e levava um dia inteiro para concluirmos nossa obra, descíamos a rua e conseguíamos olhar de longe como tinha ficado bonita nossa obra, quase sempre chovia e no outro dia não haviam mais vestígios da nossa obra. Então reiniciávamos do zero.

Poderia ficar aqui relatando tantas e todas as brincadeiras, mas não teria fim, pois não foram poucos os dias e nem poucas as horas, foi uma infância toda de brincadeiras boas e bem aproveitadas.

Fomos crianças saudáveis e que brincávamos juntos todos os dias. Percebo que parte do que sou hoje é sim da criança que fui e das experiências que minha infância me possibilitou.

Artista: Cândido Portinari

Carrego hoje ainda comigo uma das mais importantes dádivas que o ser humano pode aprender, aprendi a ser HUMANA, pois pelo contato que tive com meus amigos de infância aprendi a olhar para o outro com carinho, com cautela e com as necessidade que o outro precisa. Aprendi a ter pessoas que ficarão comigo a minha vida toda e aprendi a compreender que eles estão comigo porque querem, porque crescemos, aprendemos e somos juntos pessoas que se querem bem e procuram isso.

Sem dúvida alguma agradeço aos meus parceiros de brincadeira de infância, pois parte do que sou devo a eles: Fernanda, Daniel, Elaine, Talita Nunes, Talita Dias, Daniela, Fabiola, Mirela, Flávia, Cristiane, Popi, Déko, Anderson, Jorge, Cuco, Antônio. E ainda minhas amigas de infância que entraram na minha vida pela escola e que me possibilitaram o brincar no espaço de aprendizagens muitas: Luciana, Paula, Carolina, Priscila, Chimeni, Juciano, Adriano, Poliana, Sarai, Daniel.

É a eles que dedico minha postagem de hoje!





4 comentários:

  1. que delicia de texto! somos o que somos pora causa das pessoas, como já diz o proverbio africano ;) gratidão por participar

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  2. E se a gente não brincar a gente não cresce!!!! Não. Eu sou pequena, baixinha mesmo, mas cresci um tiquinho porquê brinquei! Eu adoro as SUAS brincadeiras, acompanho tudo e curto.... palavra da temporada. Na correria, acabo esquecendo de vir comentar. AMO! bjus Coisas da Lara

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  3. Puxa, adorei o seu post!!! Realmente o brincar é muito importante para as crianças e até mesmo para a interação filhos/pais!!! Também estou participando da blogagem coletiva... Se quiser dê um pulinho lá: www.diversaofamilia.blogspot.com.br

    Beijos!!!

    Lívia.

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  4. Ai Carol, lindo post! A brincadeira na infância é muito importante!
    E os passarinhos brincam mesmo! Brincadeiras criativas, adoro!

    Beijo grande!

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